tag:blogger.com,1999:blog-43747808010832256572024-03-08T08:30:51.707+00:00o pó da escrita<p> <p><br>
blogue de divulgação de poesia
<p></p></p></p>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.comBlogger227125tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-88139009917048795092020-04-06T16:36:00.000+01:002020-04-06T16:36:47.542+01:00entrevista a HERBERTO HELDER<br />
<br /><em>Entrevista a Herberto Hélder (na foto) por Fernando Ribeiro de Mello, publicada do Jornal de Letras e Artes n.º 139, de 17 de Maio de 1964.</em><br /><br /><br />«Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim!»<br /><br /><br />- Diz-nos desassombradamente Herberto Helder<br /><br /><br /><br />Herberto Helder, cujo último livro, «Electronicolírica», veio levantar sérios problemas em volta do conceito que a sua poética parecia anunciar acaba de publicar em conjunto com António Aragão e vários o colaboradores o caderno «Poesia Experimental» que vem confirmar a viragem operada na sua obra.<br /><br /><br /><strong><br />Fernando Ribeiro de Mello/ Jornal de Letras e Artes – </strong>Como considera criticamente a evolução da sua produção poética, desde «O Amor em Visita» ao recentemente publicado «Electronicolírica»?<br /><br /><br /><strong>Herberto Helder –</strong> Em certo sentido (que também prezo), não houve evolução. Esse sentido é o de fidelidade às bases da minha experiência – a descoberta do modo – que, fundamentalmente, se cumpriu na infância. A experiência exterior poderá ser considerada simples desenvolvimento ou enriquecimento «em linguagem». A minha poesia processou sempre, como é evidente, exercer-se sobre essa massa central e viva. Mas a experiência humana é apenas ponto de partida, núcleo sólido e permanente onde assenta a experiência posterior da criação. Considero a criação o encaminhamento, até às consequências extremas, de uma experiência em si mesma não organizada. A descoberta do mundo não possui, por ela própria, finalidade ou coerência, nem constitui a salvação desse mundo. Desde que seja possível criar um corpo orgânico em que a experiência, devidamente articulada, se baste, surge uma harmonia entre o sujeito e a sua experiência, quero dizer, o sujeito participa do cosmos. Este esforço da superação do caos exprime-se pela busca de uma linguagem. È aliás na linguagem que a experiência se vai tornando real. Se nela não há, em sentido rigoroso, experiência do mundo. A esta conclusão vem chegando uma moderna filosofia da arte. A formação da linguagem é um paciente, extenso, doloroso e, muitas vezes, desesperante caminho. O erro aparece como uma constante, mas existe a possibilidade de ser sempre menor. Entre um grau máximo e um grau mínimo de erro, situa-se a evolução. Progresso de linguagem, de adequação às finalidades, superação da experiência, purificação do tema – eis onde se pode situar o sentido da evolução. Evolui evoluirci. Suponho que, entre a minha produção até ao volume «Lugar» e a quer me encontro realizando, há um salto considerável. O livro «Electronicolírica» é apenas o início do rompimento com certos princípios que orientavam a procura do estilo. Acho-me no ponto em que não hesito distanciar-me de tudo o que antes escrevi. Mesmo de «Electronicolírica» , aliás, composto há já um ano. Afasto-me, até, da minha colaboração no primeiro número de «Poesia Experimental» que, escrita antes, se situa contudo num momento mais avançado de evolução. Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim. O pouco significarem garante-me completa liberdade e isenção, em ordem a uma nova linguagem. Nesses volumes não se exprime propriamente uma evolução, pelo facto de todos eles assentarem em dois preconceitos, a saber: 1) A consideração exclusiva de processos literários para a realização do espaço poético; 2) a preocupação de conseguir uma linguagem comunicativa. Presumo que um poeta dispõe de recursos muito mais amplos do que os meramente verbais e que, utilizando-os mesmo em exclusivo, eles devem tender à organização não apenas literária, ou gramatical, ou rítmica. Compreendo que se possam fazer poemas recorrendo, por exemplo, à expressão matemática, ao grafismo, à técnica comercial e industrial, às máquinas, à música, ou a qualquer outra fonte e tipo de sintaxe. Por outro lado, imagino que as preocupações do poeta se devem libertar da linguagem organizada para o diálogo. Max Bense afirma algo de semelhante, ao acentuar que «no conceito convencional de literatura, põe-se a ênfase na função comunicativa-social dela, enquanto que, no conceito progressivo, se insiste na sua função experimentativa-intelectual». Interessa-me, portanto, chegado que sou à convicção de me haver limitado, nos livros anteriores, a mover-me em círculo sobre uma linguagem esgotada – interessa-me digo, muito menos executar, uma gramática literária, destinada ao diálogo, do que perfazer um organismo internamente coerente e bastante. A comunicação será consequente, se for. De qualquer modo, bani a ideia, do diálogo, no meu estilo. Mas sinto-me ligado aos escritos antigos como alguém se pode sentir ligado a um paciente e doloroso erro...<br /><br /><br /><strong>FRM/JLA – </strong>Como explica a publicação do seu último livro, poesia de carácter experimental, após e em face da obra anterior que conquistara inegável prestígio?<br /><br /><br /><strong>HH – </strong>A resposta a esta pergunta está incluída na primeira. Resta-me acrescentar que o prestígio que possa ter alcançado (prestígio equivoco no qual se integra a malquerença de alguma gente, que aceito com satisfação) não poderia constituir uma poltrona. O prestígio é uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nós mesmos diz respeito outra espécie de confiança. A de que somos insubstituíveis na nossa aventura e de que ninguém a fará por nós. De que ela se fará à margem da confiança alheia.<br /><br /><br /><strong>FRM/JLA –</strong> Que pensa da atitude da crítica relativamente a este livro?<br /><br /><br /><strong>HH – </strong>A crítica? Bem vê: nas circunstâncias em que me encontro, a crítica não me poderia ajudar. Ela de resto nunca ajuda um autor. Tende afazer de mediadora entre uma linguagem e um entendimento. Ajudará o leitor. Visto que bani das minha preocupações a ideia de comunicação, não considero a intervenção desse primeiro decifrador, do mediador. Porque não estou interessado em que o leitor adira...<br />Poucas apreciações críticas foram feitas ao livro, até porque só o enviei a três ou quatro críticos, cada um deles representando certo núcleo de opinião. Simples curiosidade da minha parte... A referência que lhe concedeu Álvaro Salema exprime, mais ou menos, a opinião dos neo-realistas a meu respeito e inscrevo-a na categoria dos meus pequenos divertimentos privados. A de João Gaspar Simões, mais esclarecida e esforçada, carece de informação. Não é possível criticar-se um livro de poesia experimental com os instrumentos aplicáveis à poesia convencional. Em todo o caso, Gaspar Simões é um homem atento, e a sua formação de base parece-me menos estreita que a da maioria dos críticos portugueses. Lamento que o seu conceito de poesia se vincule demasiado a alguns postulados da geração presencista.<br /><br /><strong><br />FRM/JLA –</strong> Diga-nos se o seu livro de contos «Os Passos em Volta» constitui uma experiência isolada ou representa uma continuação da sua obra restante.<br /><br /><strong><br />HH – </strong>Esse livro pertence ao mesmo sistema de propostas e soluções dos outros. Inscrevê-lo na designação de contos, ou chamar aos meus outros livros conjuntos de poemas, significa apenas ausência de superfície às categorias estabelecidas. Não me parece necessário referir a crise das classificações literárias. Caminha-se, sabemo-lo todos, para uma visão total da obra literária que se não podem adoptar distinções afinal nunca rigorosas, senão de um ponto de vista didáctico e, assim mesmo, somente em determinado grau de didactismo, «Os Passos em Volta» são a minha primeira tentativa para superar a dictomia prosa-poesia. Marcam também o meu interesse, no momento de referir algumas algumas experiências de facto, em que a circunstância desempenhava papel preponderante. Achei então que o poema, como eu o vinha praticando, não possuía a elasticidade, o ritmo, o clima verbal, capazes de abrange, adequadamente o tecido temático e circunstancial que eu pretendia explorar. Aquele livro permitiu-me tal experiência, tendo sido ele, afinal, um passo decisivo para a abolição dos preconceitos que vinham limitando o meu trabalho.<br /><br /><br /><strong>FRM/JLA –</strong> Sobre os cadernos «Poesia Experimental» que se lhe oferece dizer?<br /><br /><strong><br />HH –</strong> «Poesia Experimental», cadernos cujos propósitos são parcialmente expostos no primeiro número e que mais cabalmente irão sendo nos seguintes, constitui o único esforço sistemático e de conjunto para a renovação da poesia portuguesa. Estes cadernos provarão também que existe na nossa poesia uma tradição que nunca foi sequer, de passagem, indicada. Quanto ao corpo de colaboradores, que espero ver presentes no diversos números que se projecta publicar, têm vindo todos eles, privada ou publicamente, tentando alguns meios novos da expressão poética. Salette Tavares ofereceu-nos agora algo que considero extremamente importante, tendo conseguido uma desenvoltura rara na utilização de uma gramática com pouca tradição onde se apoiar. António Aragão propõe um extenso poema-narração, bastante ambicioso,, justo em muitas das suas partes. Há nele uma multiplicidade de experiências que conduzirão a lugares diferentes do experimentalismo. E. M. de Melo e Castro consegue o melhor dos textos que publicou até hoje e onde se purifica a tendência «concretizante» dos seus processos. António Ramos Rosa aparece com textos semantemáticos de grande rigor que marcam corajoso passo em frente, passo aliás adivinhável já em «Ocupação do Espaço». António Barahona da Fonseca liberta-se dos seus vínculos surrealistas e promete o necessário salto mortal, para que, interiormente, se tem vindo a preparar. Quanto a mim, vou um pouco mais longe na exploração do principio combinatório inspirado nas calculadoras electrónicas, considerando no entanto tais experiências ainda pouco ousadas para o que pretendo. Espero conseguir um pouco mais.<br />Não existe qualquer uniformidade nas experiências em curso entre os colaboradores de «Poesia Experimental». É visível, imediatamente, que duas grandes tendências se desenvolvem no sei da revista. Uma a que poderei chamar «concretizante», que se apoia, digamos, numa concepção materialista da linguagem, procurando a coisificação da palavra. Outra «abstractizante», em que a ambiguidade e o indefinido, provenientes de uma inclinação barroca do espírito, se inserem no processo verbal, criando espaços míticos sobre os quais se pode dizer debruçar-se um sentido do maravilhoso. Esta tentativa de caracterização é de facto rudimentar e assinala apenas diferenças profundas imediatamente observáveis.<br /><br /><br /><strong>FRM/JLA –</strong> Quanto a si, quais os movimentos ou tendências da poesia portuguesa actual que lhe parecem importantes, não só do ponto de vista de renovação formal, estética como também sob o ângulo conceptual e humano?<br /><br /><br /><strong>HH –</strong> O único movimento poético que me parece moderno é o Experimentalismo. E estou a referir-me tanto ao nosso país como à poesia em geral. Os meus interesses estão de tal modo virados para ela que me é quase impossível dar atenção à poesia convencional, por mais notável que seja, dentro dos seus recursos e propósitos.<br />Quanto ás expressões «formal», «conceptual», «estético» e «humano», nas acepções utilizadas na sua pergunta, nada tenho a dizer. Representam conceitos não integráveis, desse modo, no meu processo de pensamento. Em poesia, formal, conceptual, estético e humano significam, conjuntamente, «linguagem». E poesia, como diria certo crítico norte-americano, é linguagem. Isolar o implícito, explicitando-o, servirá apenas para estabelecer um sistema insolúvel de situações.<br /><br />
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<br />
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Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-2782963517557532082012-10-07T10:27:00.001+01:002020-04-08T14:31:19.924+01:00Manuel António Pina<h></h><br />
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<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="281" mozallowfullscreen="mozallowfullscreen" src="https://player.vimeo.com/video/36356393" webkitallowfullscreen="webkitallowfullscreen" width="500"></iframe> <a href="http://vimeo.com/36356393">Documentário Manuel António Pina</a> from <a href="http://vimeo.com/terraliquida">Terra Líquida Filmes</a> on <a href="http://vimeo.com/">Vimeo</a>.<br />
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<h></h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-31591557364215674722012-07-12T10:30:00.000+01:002012-07-12T10:30:19.405+01:00Entrevista a João Cabral de Melo Neto<h><br />
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<i>Abaixo, alguns trechos de uma entrevista com João Cabral de Melo Neto, concedida em 1986. O poeta dispensa maiores apresentações. <br />
<b></b></i><br />
<br />
- Por que o senhor tem tanta prevenção contra a subjetividade? Há um conceito mais ou menos generalizado de que a poesia é uma manifestação extremada da subjetividade...<br />
<b><br />
João Cabral</b>: "Há uma diferença. Tenho aversão à subjetividade. Em primeiro lugar, tenho a impressão de que nenhum homem é tão interessante para se dar em espetáculo aos outros permanentemente. Em segundo lugar, tenho a impressão de que a poesia é uma linguagem para a sensibilidade, sobretudo. Uma palavra concreta, portanto, tem mais força poética do que a palavra abstrata. As palavras pedra ou faca ou maçã, palavras concretas, são bem mais fortes, poeticamente, do que tristeza, melancolia ou saudade. Mas é impossível não expressar a subjetividade. Então, a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer "eu estou triste". Ele tem é que encontrar uma imagem que dê idéia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do "eu estou triste".<br />
<br />
(...)<br />
<br />
- O senhor diz que a poesia que faz não é para ser amada. Não é porque o senhor não quer ou o senhor gostaria que suas poesias fossem amadas?<br />
<b><br />
João Cabral</b>: "Não gostaria. O escritor corre o grande risco de se baratear. A popularidade é uma coisa terrível, nesse sentido. A popularidade acaba cercando o escritor e o artista de um mundo artificial e um interesse inteiramente artificial. O sujeito acaba fazendo aquilo que sente que o público gosta, em vez de fazer aquilo que acha que deve ser feito. Eu lembro de quando Manuel Bandeira fez oitenta anos. Havia quase manifestações populares, nas homenagens que fizeram a ele. Mas você acha que aquele pessoal algum dia leu Manuel Bandeira?".<br />
<br />
- O senhor se considera, então, o quê? Um poeta popular ou um poeta conhecido? O senhor é conhecidíssimo, mas deve achar que só conhecem o nome João Cabral, não a obra ...<br />
<br />
<b>João Cabral</b>: "É difícil dizer. O êxito teatral de "Morte e Vida Severina" é que tornou o meu nome conhecido. Mas não creio que minha poesia seja popular".<br />
<br />
- O senhor sempre diz que não gosta de fazer poesia dada a emoções porque o que se chama comumente de emoção é algo feito à base de um sentimentalismo fácil e barato. O senhor diz, pelo contrário, que "emoção é outra coisa". Mas nunca ficou exatamente clara a definição que o senhor tem de "emoção". Dá para explicar - de uma vez por todas?<br />
<b><br />
João Cabral</b>: "Minha definição de emoção não é nada de especial. É o que todos chamam de "emoção". O que acontece é que me recuso a explorar essa coisa diretamente. O interesse do poeta não é descrever suas emoções e criar emoções, é criar um objeto - se é poeta, um poema; se é pintor, um quadro - que provoque - emoções no espectador. Mas não explorar nem descrever a própria emoção. Quando digo que sou contra emoção é exatamente neste sentido: o de usar a minha emoção para fazer com ela uma obra, descrevê-Ia primariamente e construir, com ela, um poema".<br />
<br />
- Quer dizer, afinal, que o senhor não é exatamente contra a emoção: é contra a exploração da emoção... <br />
<b><br />
João Cabral</b>: "Exatamente! (Faz ar de alívio, como se a charada estivesse resol- vida). Quanto a esse descrever da emoção e da sentimentalidade, a grande maioria da poesia que se escreve no mundo é assim. A obrigação do poeta, repito, é criar um objeto, um poema, que seja capaz de provocar emoção no leitor".<br />
<br />
- O que é que o senhor chama de "emoção intelectual"? Já vi o senhor usando esta expressão..:<br />
<b><br />
João Cabral</b>: "Um grande crítico americano uma vez disse o seguinte de uma poetisa americana, Edna Miller: que ele não gostava da poesia que ela fazia porque não tinha interesse intelectual. É nesse sentido que eu digo. Você pode ver perfeitamente quais são os escritores que têm um interesse intelectual e quais são os que não têm. Confesso que o escritor que não tem interesse intelectual não me interessa.<br />
<br />
A mim, me interessa enormemente a poesia de Joaquim Cardozo, mas nunca me interessou a poesia de Emílio Moura - de Minas Gerais. Eu sinto que não tinha interesse intelectual. Não só a poesia de Emílio Moura, mas a grande maioria dos poetas brasileiros. Aliás, dos poetas brasileiros, não, mas do que se chama no mundo todo de poesia. Um homem de mediana inteligência não vê interesse intelectual naquilo. Tenho a impressão de que pode ser um defeito meu. Mas confesso. A atividade intelectual é uma coisa que seduz. Vivo para ela. Quando leio um poeta que só é capaz de provocar essas emoções correntes, como saudade, melancolia ou tristeza, essa coisa não me interessa. Ora, se tenho minhas emoções, para que vou buscar emoções semelhantes numa outra coisa?".<br />
<br />
- Quando o senhor se auto-intitula um "poeta artificial", o senhor se refere ao trabalho quase artesanal que tem com a poesia?<br />
<br />
<b>João Cabral</b>: "Não apenas. Os assuntos que uso na poesia são "tirados pelos cabelos", como se diz. Fiz um poema sobre o ato de catar feijão. Você não imagina Alfonso de Guimarães, o pai, grande simbolista, fazendo um poema sobre o ato de catar feijão..."<br />
<br />
O resultado poético do trabalho do senhor é obviamente sofisticado, sob o ponto de vista intelectual. Isso contradiz a intenção de fazer uma coisa simples? A que é que o senhor atribui esta defasagem entre a intenção de fazer uma coisa simples e o resultado - que é indiscutivelmente sofisticado? <br />
<br />
<b>João Cabral</b>: "A coisa simples que quero não é fazer uma coisa boboca. O simples que almejo é chegar a uma forma que os outros entendam. Consigo raramente. e difícil traduzir as coisas de que falo de uma maneira acessível a todo mundo. Minha luta é esta: tentar botar uma coisa mais complexa numa linguagem mais simples possível. Confesso que geralmente eu fracasso".<br />
<br />
"Minha luta é tentar botar coisas complexas numa linguagem simples.<br />
Geralmente, fracasso" <br />
<br />
<a href="http://desterritorio.blogspot.pt/2009/06/entrevista-com-joao-cabral-de-melo-neto.html">Entrevista a João Cabral de Melo Neto</a><br />
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<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-58379914145265524142012-05-15T11:45:00.000+01:002012-05-15T11:45:38.933+01:00o jogo em que andamos<h><br />
<h><br />
<h><br />
<br />
Se me dessem a escolher, escolheria<br />
esta saúde de saber que estamos doentes,<br />
esta felicidade de andarmos tão infelizes.<br />
Se me dessem a escolher, escolheria<br />
esta inocência de não ser um inocente,<br />
esta pureza em que passo por impuro.<br />
Se me dessem a escolher, escolheria<br />
este amor com que odeio,<br />
esta esperança que come pães desesperados.<br />
Aqui acontece, senhores,<br />
que jogo com a morte.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<strong>juan gelman</strong>versão de luís filipe parrado<br />
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<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-4436048024576392422012-05-11T19:19:00.000+01:002012-05-11T19:19:42.408+01:00CHOREI COM OS CÃES<h><br />
<h><br />
<h><br />
Conduzia na estrada do Barranco do Bebedouro - serpenteada, estreita, iluminada pela lua cheia. <br />
De repente, um vulto na minha rota. Não pude evitar. Só o vi pelo retrovisor. <br />
Saí do carro e ajoelhei-me junto do animal, um rafeiro alentejano, lindo, que ainda me olhou nos olhos e disse baixinho: <br />
- É pá, mataste um cão sem dono. <br />
A lua cheia inundava o silêncio e eu levei-o ao colo para dentro do carro. <br />
Quando cheguei a casa, só pude fazer o que fiz. <br />
Chamei o Dique e encarreguei-o de convocar todos os cães da aldeia. O funeral foi marcado para a meia noite. <br />
Todos compareceram. <br />
Solidários, quatro amigos mais corajosos ofereceram-se para cavar a sepultura, num canto da horta, onde espontâneas medravam hortelãs. <br />
Todos reunidos no silêncio. <br />
Um uivo comovido despoletou um choro colectivo. <br />
Só o Dique não chorou. Trazia na boca uma papoila que largou<br />
em cima da sepultura. <br />
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<br />
Eufrázio Filipe<br />
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in <a href="http://mararavel.blogspot.pt/">http://mararavel.blogspot.pt/</a><br />
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<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-43643844113860995012012-04-30T09:37:00.000+01:002012-04-30T09:37:48.706+01:00dez palmos acima da insignificância<h><br />
<h><br />
<br />
vivo na cave do universo<br />
a contar os buracos da lua<br />
e as migalhas que caem<br />
da mesa nua<br />
<br />
<br />
os que por mim passam<br />
fingem que não me vêem<br />
vasculhando os restos<br />
e o rasto das nuvens<br />
<br />
<br />
vivo no estrume do subsolo<br />
meio caminho escavado <br />
entre as artérias da penúria<br />
e o sangue da usura<br />
<br />
<br />
os que a mim se chegam <br />
com falas mansas e dentes como lanças<br />
atiram-me que sou um fardo<br />
um espinho cravado nos luminosos astros<br />
<br />
<br />
ainda assim <br />
eu ardo<br />
dez palmos acima da insignificância<br />
<br />
<b><br />
v. Solteiro</b><br />
in" <a href="http://aarquitecturadaspalavras.blogspot.pt/">a arquitectura das palavras</a>"Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-17508918818751065682012-04-28T08:03:00.001+01:002012-04-28T08:04:06.217+01:00A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012<h><br />
<h><br />
<h><br />
de súbito<br />
insustentável<br />
na praça Syntagma a relva surgiu vermelha<br />
junto do tronco impassível da árvore abandonada<br />
<br />
e toda a Grécia estremece com o espanto de um grito<br />
um grito só e aflito que cruzou a Terra toda<br />
como se fora pequena<br />
como se valesse a pena despertar ainda a aurora<br />
e jaz num corpo vazio que nos perturba a cidade<br />
<br />
foi cada passo contado que o levou ao destino<br />
foi a certeza da Vida que lhe aconselhou a morte<br />
e um tiro redentor que suas mãos libertaram<br />
agitaram o torpor das consciências paradas<br />
<br />
ali foi digno <br />
Dimitris<br />
contra os tiranos da vida<br />
a provar-nos às mãos-cheias que somos senhores de tudo<br />
e só nós somos os donos da hora da liberdade<br />
quando a centelha da honra se acende dentro de um peito<br />
vestido de humanidade<br />
<br />
legou uma nota breve bordada a sangue e a revolta <br />
por não mais o merecerem os tiranos que nomeia<br />
mas o olhar derradeiro abrange este mundo inteiro<br />
adivinha-se fraterno<br />
militante<br />
solidário<br />
numa paz feita na guerra que vestiu de dignidade<br />
como a marca do trabalho na camisa do operário <br />
<br />
há-de ter nome de rua<br />
há-de erguer-se em monumento<br />
e ser contado na lenda<br />
se o soubermos merecer<br />
se o sentirmos irmão ao alcance de um abraço<br />
sem fronteiras de lamento<br />
sem o esquecimento eterno<br />
há-de ser céu e inferno<br />
há-de ser a voz do vento<br />
sempre que alguém se levante<br />
num grito só e aflito que estremeça o universo<br />
<br />
Dimitris não morreu só<br />
pois com ele morremos nós<br />
cada um para o seu lado<br />
e todos morrendo sós <br />
<br />
Dimitris<br />
Dimitris<br />
porque nos abandonaste?<br />
qual o apelo sentido?<br />
qual o rumo que traçaste?<br />
porque nos ecoa ainda<br />
esse grito que legaste? <br />
<br />
<br />
<br />
Jorge Castro<br />
15 de Abril de 2012<br />
<a href="http://sete-mares.blogspot.pt/">sete mares</a><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-70468559428676175962012-03-18T10:21:00.000+00:002012-03-18T10:21:31.018+00:00SEGREDO<h><br />
<h><br />
<br />
<br />
Lá, na última das celas<br />
nódoa negra de açoites,<br />
não há dias, não há noites<br />
porque as as noites têm estrelas.<br />
<br />
Lá, só na sombra que dói.<br />
Sombra e brancura de um osso<br />
que o preso remói, remói<br />
no fundo do seu poço.<br />
<br />
Lá, quando o vierem buscar<br />
amanhã, depois ou logo,<br />
terá na alma mais um fogo,<br />
mais uma chama no olhar.<br />
<br />
<b>Luís Veiga Leitão<br />
</b>(1912-1987)<br />
In "Sonhar a Terra Livre e Insubmissa"Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-41085850119273281232012-02-28T17:19:00.000+00:002012-02-28T17:19:25.393+00:00O MEU PAÍS FICA AQUI<strong><h></strong><br />
<strong><h></strong><br />
<strong> Reza a Deus quando está só </strong><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> E a Maria na multidão</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> O meu país fica aqui </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> È velho como uma espada </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> Pequeno como altar de troca </b><br />
<b> </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b></b><b>O meu país serve a demência</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Com paciência bovina </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Fica aqui ao pé do mar</b><br />
<b><br />
</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b></b><b>Chora com um trevo na mão</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> A busca da sorte </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> </b><b>A ciência da escuridão</b><br />
<b><br />
</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> </b><b>O meu pais fica aqui</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> Onde o vizinho morto</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b> Dá dois rostos de televisão </b></div><br />
José Ribeiro Marto<br />
in <a href="http://vaandando.blogspot.com/">http://vaandando.blogspot.com/</a>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-28204989950170027712012-02-15T11:11:00.000+00:002012-02-15T11:11:25.993+00:00Retornos<h><br />
<h><br />
<h><br />
Voltou. Não disse nada. <br />
Parecia muito perturbado.<br />
Deitou sem tirar a roupa. <br />
Escondeu se debaixo do cobertor, <br />
as pernas dobradas.<br />
Tem quarenta anos, mas não neste momento.<br />
Está vivo - mas como no ventre materno<br />
atrás de sete peles, na escuridão que o defende.<br />
Amanhã dá palestra sobre homeostasis<br />
na cosmonáutica metagalática.<br />
Por enquanto se encolhe, adormece.<br />
Os filhos da época <br />
<br />
Somos os filhos da época,<br />
e a época é política.<br />
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,<br />
coisas de cada dia, de cada noite<br />
são coisas políticas.<br />
Queiras ou não queiras,<br />
teus genes têm um passado político,<br />
tua pele, um matiz político,<br />
teus olhos, um brilho político.<br />
O que dizes tem ressonância,<br />
o que calas tem peso<br />
de uma forma ou outra - político.<br />
Mesmo caminhando contra o vento<br />
dos passos políticos<br />
sobre solo político.<br />
Poemas apolíticos também são políticos,<br />
e lá em cima a lua já não dá luar.<br />
Ser ou não ser: eis a questão.<br />
Oh, querida, que questão mal parida.<br />
A questão política.<br />
Não precisas nem ser gente<br />
para teres importância política.<br />
Basta ser petróleo, ração,<br />
qualquer derivado, ou até<br />
uma mesa de conferência cuja forma<br />
vem sendo discutida meses a fio.<br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>WISLAWA SZYMBORSKA</strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Tradução: Ana Cristina Cesar</strong></span>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-46386403989995404452012-02-02T18:58:00.004+00:002012-02-03T13:20:10.607+00:00A propósito de "A Sombra da Romã" - um Inédito em "CASAL DAS LETRAS"<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: left;"><strong>Inédito </strong></div><br />
O TORMENTO DA NEVE <br />
<br />
<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: left;">Numa cadeira de rodas que não rodava</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: left;">Vi uma mulher coroada por uma montanha de neve.</div><div style="text-align: left;">Na relva do tapete uma criança de joelhos</div><div style="text-align: left;">Com um pássaro morto no centro da cabeça.</div><div style="text-align: left;">É ela que escreve esta página suja de terra </div><div style="text-align: left;">Com pancadas vivas de violência de sangue e uma gazela.</div><div style="text-align: left;">Não sei se Deus estava presente ou chorava </div><div style="text-align: left;">Mas as janelas sem estrelas e esta beleza sem nexo</div><div style="text-align: left;">Gritaram ouro cortado entre os dedos e o sexo</div><div style="text-align: left;">Cuspiram enxofre para dentro do poema.</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"></div><h><br />
<h><br />
<div style="text-align: left;">Maria Azenha</div><div style="text-align: left;"><strong></strong><h></div><div style="text-align: left;">in<strong> </strong><a href="http://www.casaldasletras.com/convidados.html"><strong>http://www.casaldasletras.com/convidados.html</strong></a></div><div style="text-align: left;"><br />
<br />
e <a href="http://www.casaldasletras.com/index.html">http://www.casaldasletras.com/index.html</a></div><div style="text-align: left;"><br />
<h></div><h><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-31053221743479442662011-12-10T13:59:00.000+00:002011-12-10T13:59:51.863+00:00Tenho uma folha branca<h><br />
<h><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/ixPas5BhkgE" width="420"></iframe><br />
<h><br />
<h><br />
<br />
Tenho uma folha branca<br />
e limpa à minha espera:<br />
<br />
mudo convite<br />
<br />
tenho uma cama branca<br />
e limpa à minha espera:<br />
<br />
mudo convite<br />
<br />
tenho uma vida branca<br />
e limpa à minha espera.<br />
<h><br />
<h><br />
<br />
<i><b>Ana Cristina César<i></i></b> nasceu em 2 de Junho de 1952, no Rio de Janeiro. Suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983.</i>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-91866404299692838212011-10-04T08:52:00.000+01:002011-10-04T08:52:21.609+01:00AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS<h><br />
<h><br />
<object width="420" height="315"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/cuucaQfIuuo?version=3&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/cuucaQfIuuo?version=3&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" width="420" height="315" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed></object><br />
<h><br />
<h><br />
Bertolt Brecht <br />
<h><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-90620401166654464062011-08-22T22:47:00.001+01:002011-08-22T22:47:26.599+01:00ManifiestoManifiesto<br />
<br />
POESÍA ÚTIL<br />
<br />
<br />
<br />
Cansados, aburridos, decepcionados de la poesía que se escribe en la España de fin de siglo XX (con el justo respeto a las contadas excepciones redentoras), por instinto de resurrección poética decimos No. No queremos una poesía domada por las tendencias dominantes. Queremos una poesía en estado salvaje, libre. No queremos una poesía aséptica, de sonsonete, mimética. No queremos poemas de tubo de ensayo, ni poemas lúdicos que camuflan la trampa. No queremos una poesía profesoral escrita por doctos iniciados para los elegidos de la secta. Arremetemos contra la abulia, contra el sopor, contra la palabrería, contra el ombliguismo lingüístico, en un mundo que se descompone por la carcoma de su incapacidad para pensar y repeler la agresión de la Gran Anestesia. Rechazamos la poesía elaborada para obligar al lector a estudiar el diccionario, la poesía personalista de valor terapéutico exclusivo para su autor, la poesía de fanatismo culturalista y esteticista, la humorada, la banalidad de pensamiento y la frivolidad en el tratamiento de los sentimientos y las emociones. Abajo la poesía de hueco alarde ingenioso, voz impostada y palabra estéril.<br />
<br />
<br />
<br />
Propugnamos una poesía heredera de la tradición mejor asimilada, abierta a caminos nuevos en la forma y en los temas. Una poesía sencilla, clara, rotunda, directa, honda, intensa y grave, cargada de intención. Que atraviese la inteligencia, queme en los ojos y en los oídos, estrangule el corazón, produzca escalofrío en el conocimiento y fustigue la conciencia agitándola, haciéndola reaccionar, moviéndola a la reflexión y a la acción. Una poesía habitable, testimonio radicalmente sincero de la experiencia vital e intelectual, de nuestra convivencia con la realidad del existir y con la idea de la muerte. Defendemos una poesía útil que, además de objeto de belleza, sea sujeto de conducta. Que sirva al ser humano: moralmente, para vivir; culturalmente, para ensanchar y afianzar su saber; y estéticamente, para gozar. Una poesía que tenga los pies en la tierra, comprometida con el destino de las mujeres y hombres de su tiempo. Que busque elevar el lenguaje coloquial a la categoría de lenguaje poético, y consiga que la verdad particular de su mensaje alcance validez universal. A esta poesía (firma en su poder de insinuación y de sorpresa) conviene una mínima dosis de didactismo que haga eficaz su interés por regenerar los valores del espíritu y del arte, así como su afñan rehabilitador de la imaginación, la voluntad, la sensibilidad y la razón crítica de unos lectores cuya recuperación hemos de demostrar merecer sin otras armas que la propia obra.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Ángel Guinda<br />
<br />
Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-78966404853104110882011-08-22T21:31:00.000+01:002011-08-22T21:31:48.528+01:00o último poema<h><br />
<h><br />
<br />
Assim eu quereria o meu último poema<br />
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais<br />
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas<br />
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume<br />
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos<br />
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.<br />
<h><br />
<h><br />
<h><br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Manuel Bandeira</strong></span><br />
<h><br />
<h><br />
<h><br />
<br />
<br />
Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-29010567053811417872011-08-02T21:20:00.002+01:002011-08-02T21:20:51.663+01:00escreve<h><br />
<h><br />
<object height="349" width="560"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/AcIfK-3tRUU?version=3&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/AcIfK-3tRUU?version=3&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" width="560" height="349" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed></object><br />
<h><br />
<h><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-88682373573640273292011-08-02T20:12:00.001+01:002011-08-02T20:12:59.672+01:00a santa ceia<h><br />
<h><br />
<br />
A mesa sempre farta<br />
e a casa muito cheia.<br />
O eterno ritual da santa ceia,<br />
regado de luxúria e de prazer.<br />
E eu, sem trono e sem coroa de rainha,<br />
Reinando, absoluta, na cozinha.<br />
Enquanto eles se matam de comer.<br />
<br />
<h><br />
<h><br />
<h><br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Kátia Drummond</strong></span><br />
<h><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-74362320852593596862011-07-24T20:50:00.000+01:002011-07-24T20:50:51.354+01:00o meu verdadeiro espírito<h><br />
<h><br />
<br />
O meu verdadeiro espírito, qual é?<br />
Não te posso dizer.<br />
Vê apenas a neve e o orvalho<br />
das montanhas.<br />
<h><br />
<h><br />
<h><br />
<br />
<strong><span style="font-size: xx-small;">Dogen Zenji (1231-1253)</span></strong>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-28900290726307668522011-07-24T10:08:00.000+01:002011-07-24T10:08:28.817+01:00Portugal<h><br />
<h><br />
<br />
Portugal<br />
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos<br />
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África<br />
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais<br />
e nunca mais voltasse<br />
Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney<br />
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente<br />
Portugal<br />
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional<br />
(que os meus egrégios avós me perdoem)<br />
Ontem estive a jogar poker com o velho do Restelo<br />
Anda na consulta externa do Júlio de Matos<br />
Deram-lhe uns eletrochoques e está a recuperar<br />
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos<br />
espera um futuro de rosas<br />
Portugal<br />
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império<br />
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado<br />
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse<br />
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador<br />
Portugal<br />
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to<br />
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir<br />
Portugal<br />
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém<br />
Sabes<br />
Estou loucamente apaixonado por ti<br />
Pergunto a mim mesmo<br />
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu<br />
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentugal<br />
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade<br />
Portugal estás a ouvir-me?<br />
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete, Salazar estava no poder, nada de ressentimentos<br />
o meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram, nada de ressentimentos<br />
um dia bebi vinagre, nada de ressentimentos<br />
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga<br />
ia agora propor-te um projeto eminentemente nacional<br />
Que fossemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou<br />
Portugal<br />
Sabes de que cor são os meus olhos?<br />
São castanhos como os da minha mãe<br />
Portugal<br />
gostava de te beijar muito apaixonadamente<br />
na boca<br />
<br />
<h><br />
<h><br />
<b>Jorge de Sousa Braga</b>in "<b>O Poeta Nu"<br />
<i></i></b>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-67739823301382706732011-07-17T16:17:00.000+01:002011-07-17T16:17:11.266+01:00ENTRE CAIXÃO E BERÇO<h><br />
<h><br />
<h><br />
<br />
Mãe, quando, um dia, eu voltar de vez,<br />
fico aqui contigo para sempre.<br />
Quando abraçar a velha soleira<br />
e beijar as santas árvores de antigamente<br />
e, cansado, lágrimas tremendo,<br />
em teus olhos olhar.<br />
<br />
Espera, então, por mim, que uma noite virei.<br />
<br />
Será Outono, sei, luz púrpura ziguezagueia,<br />
fulva luz nocturna.<br />
A grande porta de ferro, troando, há-de fechar-se de tal modo,<br />
Que a velha casa ,fria, tremerá<br />
de medo.<br />
<br />
Mas tu não receies, vem ao meu encontro, suavemente,<br />
por mais medonho e branco que eu seja,<br />
aperta-me nos teus braços, não busques o coração,<br />
que inunda o sangue feio e preto,<br />
olha só para os meus olhos dormentes e baços, <br />
acaricia-me a cabeça, em silêncio.<br />
Eu nem sequer te contarei como vivi<br />
entre beijos ulcerados , na noite clara,<br />
olhar-te-ei somente, como no passado,<br />
então compreenderei que tu és o início<br />
e tu és o fim.<br />
Mudo,deitar-me-ei na grande cama branca,<br />
eu, velho bebé que falar não sabe,<br />
e do coração aos lábios sobe, vibrante,<br />
a ida melodia da minha vida.<br />
Tu escutas,como quem vela junto ao berço,<br />
eu devaneio, sorrindo, triste,<br />
e, hesitante entre o caixão e berço,<br />
fias minha branca coroa de flores.<br />
Passou quase a noite,em repetidos suspiros;<br />
Curando, franze teu abençoado sorriso;<br />
E,em lágrimas,com flores e uma canção muito antiga,<br />
Cantas a morte do teu pobre filho.<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Kosztolányi Dezső (1907)</strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Tradução de Ernesto Rodrigues</strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><h><strong></strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><h><strong></strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><h><strong></strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><br />
<strong></strong></span><br />
<br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-83255321078680209382011-07-06T13:32:00.000+01:002011-07-06T13:32:09.612+01:00a maré do meu amor<h><br />
<h><br />
<br />
A maré do meu amor<br />
Subiu tão alto;<br />
Deixa-me fluir sobre ti.<br />
Fecha os olhos por um momento<br />
E pode ser que todos os teus medos e fantasias<br />
Acabem.<br />
Se isso acontecesse<br />
Deus tornar-se-ia numa criança em teus braços.<br />
E depois,<br />
Terias que cuidar de toda a criação.<br />
<br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-15705398270797369782011-06-03T09:00:00.002+01:002011-06-03T09:00:49.255+01:00DE PROFUNDIS AMAMUS (mário cesariny de vasconcelos)<h><br />
<h><br />
<br />
Ontem<br />
às onze<br />
fumaste<br />
um cigarro<br />
encontrei-te<br />
sentado<br />
ficámos para perder<br />
todos os teus eléctricos<br />
os meus<br />
estavam perdidos<br />
por natureza própria<br />
Andámos<br />
dez quilómetros<br />
a pé<br />
ninguém nos viu passar<br />
excepto<br />
claro<br />
os porteiros<br />
é da natureza das coisas<br />
ser-se visto<br />
pelos porteiros<br />
Olha<br />
como só tu sabes olhar<br />
a rua os costumes<br />
O Público<br />
o vinco das tuas calças<br />
está cheio de frio<br />
e há quatro mil pessoas interessadas<br />
nisso<br />
Não faz mal abracem-me<br />
os teus olhos<br />
de extremo a extremo azuis<br />
vai ser assim durante muito tempo<br />
decorrerão muitos séculos antes de nós<br />
mas não te importes<br />
não te importes<br />
muito<br />
nós só temos a ver<br />
com o presente<br />
perfeito<br />
corsários de olhos de gato intransponível<br />
maravilhados maravilhosos únicos<br />
nem pretérito nem futuro tem<br />
o estranho verbo nosso<br />
<br />
<h><br />
<h><br />
mário cesariny de vasconcelos<br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-88492056572129744942011-05-29T18:18:00.000+01:002011-05-29T18:18:07.940+01:00Poema pouco original do medo<h><br />
<h><br />
O medo vai ter tudo<br />
pernas<br />
ambulâncias<br />
e o luxo blindado<br />
de alguns automóveis<br />
Vai ter olhos onde ninguém o veja<br />
mãozinhas cautelosas<br />
enredos quase inocentes<br />
ouvidos não só nas paredes<br />
mas também no chão<br />
no teto<br />
no murmúrio dos esgotos<br />
e talvez até (cautela!)<br />
ouvidos nos teus ouvidos<br />
<br />
O medo vai ter tudo<br />
fantasmas na ópera<br />
sessões contínuas de espiritismo<br />
milagres<br />
cortejos<br />
frases corajosas<br />
meninas exemplares<br />
seguras casas de penhor<br />
maliciosas casas de passe<br />
conferências várias<br />
congressos muitos<br />
ótimos empregos<br />
poemas originais<br />
e poemas como este<br />
projetos altamente porcos<br />
heróis<br />
(o medo vai ter heróis!)<br />
costureiras reais e irreais<br />
operários<br />
(assim assim)<br />
escriturários<br />
(muitos)<br />
intelectuais<br />
(o que se sabe)<br />
a tua voz talvez<br />
talvez a minha<br />
com a certeza a deles<br />
<br />
Vai ter capitais<br />
países<br />
suspeitas como toda a gente<br />
muitíssimos amigos<br />
beijos<br />
namorados esverdeados<br />
amantes silenciosos<br />
ardentes<br />
e angustiados<br />
<br />
Ah o medo vai ter tudo<br />
tudo<br />
(Penso no que o medo vai ter<br />
e tenho medo<br />
que é justamente<br />
o que o medo quer)<br />
<br />
O medo vai ter tudo<br />
quase tudo<br />
e cada um por seu caminho<br />
havemos todos de chegar<br />
quase todos<br />
a ratos<br />
<h><br />
<h><br />
Alexandre O'Neill<br />
<h><br />
<h><br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-59358346569464272962011-05-24T17:32:00.000+01:002011-05-24T17:32:54.593+01:00Poeta<h><br />
<h><br />
<h><br />
Está a trabalhar agora, numa sala<br />
que não é diferente desta,<br />
onde escrevo, ou aquela em que lês.<br />
A mesa está coberta com papéis.<br />
A luz do candeeiro seria <br />
suavizada por um abajur, onde <br />
a sua crueza única se pudesse diluir,<br />
mas não é; ela tirou-o.<br />
Os seus poemas? Nunca os perceberei bem,<br />
embora sejam aqueles de que mais preciso.<br />
Nem o próprio alfabeto que ela usa<br />
eu consigo decifrar. A sua cadeira -<br />
imaginemos se é de pele <br />
ou lona, de vinil ou verga. Deixemos<br />
que fique com uma cadeira, o candeeiro sem abajur,<br />
a mesa. Que um ou dois daqueles que ama<br />
estejam no quarto ao lado. Porta fechada <br />
e de boa saúde os que dormem.<br />
Dêmos-lhe tempo, e silêncio,<br />
papel que chegue para cometer erros e continuar.<br />
<h><br />
<h><br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>Jane Hirshfield</strong></span><br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong>tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho </strong></span><br />
<h<
<h><br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;"><strong><em> http://www.triplov.org/novaserie.revista/numero_15/jane_hirshfield/index.html</em></strong></span><br />
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<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4374780801083225657.post-59285790953589352332011-05-06T19:32:00.004+01:002011-05-06T19:36:11.036+01:00poesia dita por António Cardoso Pinto<object height="81" width="100%"><param name="movie" value="http://player.soundcloud.com/player.swf?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F12154318&show_comments=false&color=a74233"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed allowscriptaccess="always" height="81" src="http://player.soundcloud.com/player.swf?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F12154318&show_comments=false&color=a74233" type="application/x-shockwave-flash" width="100%"></embed></object><span><a href="http://soundcloud.com/manuscritosdigitais/fernando-pinto-do-amaral">Fernando Pinto do Amaral - Limiar - poema dito por António Cardoso Pinto</a> by <a href="http://soundcloud.com/manuscritosdigitais">manuscritosdigitais</a></span><br />
<h><br />
<h><br />
em <a href="http://soundcloud.com/manuscritosdigitais">manuscritos digitais</a><br />
<br />
<h>Maria Azenhahttp://www.blogger.com/profile/02754667827802663252noreply@blogger.com0