LAMENTO PELA MINHA CABANA DESTRUÍDA PELO VENTO DE OUTONO – Tu Fu
No oitavo mês, em pleno outono, o vento ruge, colérico, E leva num turbilhão as três camadas de palha da minha cabana. O colmo voa, atravessa o rio, espalha-se pela ribanceira. O que voa alto fica suspenso nos ramos da grande floresta, o que voa baixo cai vai girando cair nas ravinas. As crianças da aldeia do sul riem-se da fraqueza da minha velhice: têm a audácia de me roubar às claras: abertamente arrancam o colmo e fogem por entre os bambus. Grito até ficar com a boca seca: não adianta nada. Volto para casa, suspiro, apoiado ao meu bastão. O vento cessa bruscamente, mas as nuvens continuam negras, o céu de outono é silencioso e escurece com o vir da tarde. Os lençóis e cobertas são velhos, frios como ferro, as crianças, sensíveis, com repugnância, rasgaram-nos a pontapés. Todos os leitos do aposento são úmidos: não há um lugar seco, sinto cãibras nas pernas, não as poso entender. Aflijo-me, lamento-me, durmo um pouco, a noite é longa e úmida, como a poderei passa...