Terra de névoa
No Inverno a minha amada está com os bichos na mata. Que eu tenho de voltar antes do dia, a raposa sabe-o e ri. Tremem tanto estas nuvens! E na minha gola de neve cai uma cama de gelo quebrado. No Inverno a minha amada é uma árvore entre as árvores e convida aos belos ramos os corvos abandonados da sorte. Sabe que o vento, ao anoitecer, lhe levanta o vestido hirto de noite e geada, e me leva para casa. No Inverno a minha amada Vai silenciosa com os peixes. Servindo as águas, movidas adentro pelo o fio das barbatanas, eu fico na margem e vejo-a mergulhar e revirar, enquanto os gelos não me expulsam. E de novo, ao embate do grito da ave que me ampara com a asa, desabo num campo aberto: a amada depena as galinhas e atira-me uma clavícula branca. Ponho-a ao pescoço e afasto-me por entre a penugem amarga. Infiel é a minha amada, eu sei que às vezes flutua de saltos altos até à cidade, beija nos bares com a palhinha os copos profundamente na boca e...