Conduzia na estrada do Barranco do Bebedouro - serpenteada, estreita, iluminada pela lua cheia. De repente, um vulto na minha rota. Não pude evitar. Só o vi pelo retrovisor. Saí do carro e ajoelhei-me junto do animal, um rafeiro alentejano, lindo, que ainda me olhou nos olhos e disse baixinho: - É pá, mataste um cão sem dono. A lua cheia inundava o silêncio e eu levei-o ao colo para dentro do carro. Quando cheguei a casa, só pude fazer o que fiz. Chamei o Dique e encarreguei-o de convocar todos os cães da aldeia. O funeral foi marcado para a meia noite. Todos compareceram. Solidários, quatro amigos mais corajosos ofereceram-se para cavar a sepultura, num canto da horta, onde espontâneas medravam hortelãs. Todos reunidos no silêncio. Um uivo comovido despoletou um choro colectivo. Só o Dique não chorou. Trazia na boca uma papoila que largou em cima da sepultura. Eufrázio Filipe in http://mararavel.blogspot.pt/
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