de repente
na casa da minha infância ouço passos de anos
cá dentro espreitam as janelas as árvores e um balouço
a dar à corda com a tábua do assento
para lá e para cá
numa mingua qualquer de vento
não sei olhar senão por um olhar fundo de câmara lenta
sentindo o calor das sombras de hastes inseguras
sentindo as árvores folheando ao tempo
só o silêncio pressinto
nem um cão ladra não há passagem de ninguém
nem de outro bicho ou de outra gente
mas há uma fotografia que se completa tão longe
tão nítida na folhagem do arvoredo doce de descanso
chego a mim e não dou pelo meu rosto
inclinado para o passado com uma trégua com o movimento escrito
com os meus olhos perdidos no balouço
ainda ouço um grito um enorme grito de espanto
eu ando e vagueio por aí e estou distante
José Ribeiro Marto
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