Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2011

Terra de névoa

No Inverno a minha amada está com os bichos na mata. Que eu tenho de voltar antes do dia, a raposa sabe-o e ri. Tremem tanto estas nuvens! E na minha gola de neve cai uma cama de gelo quebrado. No Inverno a minha amada é uma árvore entre as árvores e convida aos belos ramos os corvos abandonados da sorte. Sabe que o vento, ao anoitecer, lhe levanta o vestido hirto de noite e geada, e me leva para casa. No Inverno a minha amada Vai silenciosa com os peixes. Servindo as águas, movidas adentro pelo o fio das barbatanas, eu fico na margem e vejo-a mergulhar e revirar, enquanto os gelos não me expulsam. E de novo, ao embate do grito da ave que me ampara com a asa, desabo num campo aberto: a amada depena as galinhas e atira-me uma clavícula branca. Ponho-a ao pescoço e afasto-me por entre a penugem amarga. Infiel é a minha amada, eu sei que às vezes flutua de saltos altos até à cidade, beija nos bares com a palhinha os copos profundamente na boca e

pastelaria

Marco D'Almeida no programa Voz Pastelaria Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura Afinal o que importa não é bem o negócio nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio Afinal o que importa não é ser novo e galante - ele há tanta maneira de compor uma estante Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício Não é verdade rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola Que afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim ainda há muita gente que come Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo! Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.  António Cícero

Poesia budista

Prefiero poemas que son pequeñas visiones budistas momentos de conciencia textos, que suben rápido a la mente saco la puntuación y llego al Nirvana in " El cuarto oscuro y otros poemas" Robert Gurney