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A mostrar mensagens de agosto, 2009

o que os meus olhos vêem- maria gomes

o que os meus olhos vêem, o que os teus olhos vêem, será talvez o litigo da solidão profunda, o ar, em suma, num silêncio irredutível, livre, lírico , tão longínquo, num lugar antes do tempo. maria gomes

O Poeta em Lisboa

Quatro horas da tarde. O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos. Tem febre. Arde. E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos. Segue por esta, por aquela rua sem pressa de chegar seja onde for. Pára. Continua. E olha a multidão, suavemente, com horror. Entra no café. Abre um livro fantástico, impossível. Mas não lê. Trabalha - numa música secreta, inaudível. Pede um cigarro. Fuma. Labaredas loucas saem-lhe da garganta. Da bruma espreita-o uma mulher nua, branca, branca. Fuma mais. Outra vez. E atira um braço decepado para a mesa. Não pensa no fim do mês. A noite é a sua única certeza. Sai de novo para o mundo. Fechada à chave a humanidade janta. Livre, vagabundo dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta. Sonâmbulo, magntfico segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado. Um luar terrífico vela o seu passo transtornado. Seis da madrugada. A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa. Defende-se à dentada da vida proletária, aristocrática, burguesa. Febre alta, violenta e dois

de William Carlos Williams

"A man like a city and a woman like a flower – who are in love. Two women. Three women. Innumerable women, each like a flower. But only one man – like a city.” William Carlos Williams, The Broken Span, 1941