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Tenho uma folha branca

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Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca e limpa à minha espera. Ana Cristina César nasceu em 2 de Junho de 1952, no Rio de Janeiro. Suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983.

AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS

Bertolt Brecht

Manifiesto

Manifiesto POESÍA ÚTIL Cansados, aburridos, decepcionados de la poesía que se escribe en la España de fin de siglo XX (con el justo respeto a las contadas excepciones redentoras), por instinto de resurrección poética decimos No. No queremos una poesía domada por las tendencias dominantes. Queremos una poesía en estado salvaje, libre. No queremos una poesía aséptica, de sonsonete, mimética. No queremos poemas de tubo de ensayo, ni poemas lúdicos que camuflan la trampa. No queremos una poesía profesoral escrita por doctos iniciados para los elegidos de la secta. Arremetemos contra la abulia, contra el sopor, contra la palabrería, contra el ombliguismo lingüístico, en un mundo que se descompone por la carcoma de su incapacidad para pensar y repeler la agresión de la Gran Anestesia. Rechazamos la poesía elaborada para obligar al lector a estudiar el diccionario, la poesía personalista de valor terapéutico exclusivo para su autor, la poesía de fanatismo culturalista y esteticista, la

o último poema

Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. Manuel Bandeira

escreve

a santa ceia

A mesa sempre farta e a casa muito cheia. O eterno ritual da santa ceia, regado de luxúria e de prazer. E eu, sem trono e sem coroa de rainha, Reinando, absoluta, na cozinha. Enquanto eles se matam de comer. Kátia Drummond

o meu verdadeiro espírito

O meu verdadeiro espírito, qual é? Não te posso dizer. Vê apenas a neve e o orvalho das montanhas. Dogen Zenji (1231-1253)

Portugal

Portugal Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais e nunca mais voltasse Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente Portugal Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem) Ontem estive a jogar poker com o velho do Restelo Anda na consulta externa do Júlio de Matos Deram-lhe uns eletrochoques e está a recuperar àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas Portugal Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse da

ENTRE CAIXÃO E BERÇO

Mãe, quando, um dia, eu voltar de vez, fico aqui contigo para sempre. Quando abraçar a velha soleira e beijar as santas árvores de antigamente e, cansado, lágrimas tremendo, em teus olhos olhar. Espera, então, por mim, que uma noite virei. Será Outono, sei, luz púrpura ziguezagueia, fulva luz nocturna. A grande porta de ferro, troando, há-de fechar-se de tal modo, Que a velha casa ,fria, tremerá de medo. Mas tu não receies, vem ao meu encontro, suavemente, por mais medonho e branco que eu seja, aperta-me nos teus braços, não busques o coração, que inunda o sangue feio e preto, olha só para os meus olhos dormentes e baços, acaricia-me a cabeça, em silêncio. Eu nem sequer te contarei como vivi entre beijos ulcerados , na noite clara, olhar-te-ei somente, como no passado, então compreenderei que tu és o início e tu és o fim. Mudo,deitar-me-ei na grande cama branca, eu, velho bebé que falar não sabe, e do coração aos lábios sobe, vibrante, a ida melodia da

a maré do meu amor

A maré do meu amor Subiu tão alto; Deixa-me fluir sobre ti. Fecha os olhos por um momento E pode ser que todos os teus medos e fantasias Acabem. Se isso acontecesse Deus tornar-se-ia numa criança em teus braços. E depois, Terias que cuidar de toda a criação.

DE PROFUNDIS AMAMUS (mário cesariny de vasconcelos)

Ontem às onze fumaste um cigarro encontrei-te sentado ficámos para perder todos os teus eléctricos os meus estavam perdidos por natureza própria Andámos dez quilómetros a pé ninguém nos viu passar excepto claro os porteiros é da natureza das coisas ser-se visto pelos porteiros Olha como só tu sabes olhar a rua os costumes O Público o vinco das tuas calças está cheio de frio e há quatro mil pessoas interessadas nisso Não faz mal abracem-me os teus olhos de extremo a extremo azuis vai ser assim durante muito tempo decorrerão muitos séculos antes de nós mas não te importes não te importes muito nós só temos a ver com o presente perfeito corsários de olhos de gato intransponível maravilhados maravilhosos únicos nem pretérito nem futuro tem o estranho verbo nosso mário cesariny de vasconcelos

Poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém o veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no teto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos ótimos empregos poemas originais e poemas como este projetos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários (assim assim) escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a deles Vai ter capitais países suspeitas como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados Ah o medo vai ter tudo tudo (Penso

Poeta

Está a trabalhar agora, numa sala que não é diferente desta, onde escrevo, ou aquela em que lês. A mesa está coberta com papéis. A luz do candeeiro seria suavizada por um abajur, onde a sua crueza única se pudesse diluir, mas não é; ela tirou-o. Os seus poemas? Nunca os perceberei bem, embora sejam aqueles de que mais preciso. Nem o próprio alfabeto que ela usa eu consigo decifrar. A sua cadeira - imaginemos se é de pele ou lona, de vinil ou verga. Deixemos que fique com uma cadeira, o candeeiro sem abajur, a mesa. Que um ou dois daqueles que ama estejam no quarto ao lado. Porta fechada e de boa saúde os que dormem. Dêmos-lhe tempo, e silêncio, papel que chegue para cometer erros e continuar. Jane Hirshfield tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho  http://www.triplov.org/novaserie.revista/numero_15/jane_hirshfield/index.html

poesia dita por António Cardoso Pinto

Fernando Pinto do Amaral - Limiar - poema dito por António Cardoso Pinto by manuscritosdigitais em manuscritos digitais

apocalipse

virei reiteradamente como as estações das flores virei como o animal ou o corsário semear o vento que vos lembre a morte (e vós que vos fechais em vossa vã imagem e vossos trapos, vós que adorais Deus olhando-vos ao espelho, tremei de vosso assento de carne fustigada há muito que Ele deixou às vossas portas as sandálias) virei na eclosão das vagas envolto em tudo quanto a vida trabalha virei no desregramento do vento e em vosso pasmo assim eu cante o vinho que sobe o rio às costas dos vindimadores virei no circuito da palavra que se quebra como um ramo de água e deixareis as armas para falar sem ritos morre-se quando de nós ficam ficaram restos que ninguém recolhe virei no som de Stockhausen e quantos desconstruíram a harmonia e o mundo antigo para que habiteis o tempo como quem habita as fontes cheios de barulhos por dentro como o vinho à cabeça das vindimadeiras in: http://triplov.com/semas/2010/Nome/index.htm

Meninas

 (a Paula Rego)  Saem da treva  as amas  sentam-se em bancos pequenos  bem juntinhos  à lareira  abrem os cestos  de fruta que são caixas  de costura  linhas de côr  e agulhas  vão bordar um pano  branco  saltam faúlhas  vermelhas ouve-se o grito  rasgado  foge o gato  da tesoura  lá no fundo uma menina  com o seu avental de pranto  Outonais (poemas 2005-2010), Yvette K. Centeno in http://www.poemsfromtheportuguese.org/121Yvette_KCen.asp

o acto de ler

O acto de ler reabre feridas. Nos livros em que isso acontece, com frequência, poderia ao menos haver um aviso na capa; assim como se faz com as carteiras de tabaco, embora se saiba que poucos deixam de fumar por isso. Teresa Jardim in: Resumo, a poesia em 2011, Ed. Assírio e Alvim/FNAC,  Lisboa, Março 2011

ESTE SERÁ MEU CUMPRIMENTO

acabaram meus cigarros dinheiro tenho pouco nem uma pessoa influente de poder conheço não levarei ninguém a qualquer promoção portanto, não leia este verso este poema como um meio, por ele – que sou eu – não chegará a nenhum futuro brilhante nem a ocupar um cargo de bom salário ou daqueles de excelentes aparências. não tenho nem como trocar favores não tenho nada que lhe possa interessar se for por isso nem mesmo um minuto vale perder comigo. não precisa de discrição, afasta-se rápido finja em qualquer lugar que passo despercebido. muitos conhecidos pensam em me querer - no mínimo do que tenho. mas não tenho nada, nem o mínimo nem mesmo um verso rimado não tenho o que oferecer pode pensar que me ver é avistar um rosto de dia de semana um rosto de olhar cansado o trajeto de uma terça-feira sim, sou um dia de semana arrastado sem uma ninharia. melhor, então, é me deixar jogado num canto prometo que a partir de hoje logo que alguém falar comigo antes de to

Cai uma folha no poente

Cai uma folha no poente destes dias O que era nítido torna-se difuso Babel renasce em cinzas de um deserto próprio E o vento busca em vão uma harmonia A solidão é em mim um oásis às avessas Lutando em vão contra a miragem certa Amélia Pais http://barcosflores.blogspot.com/

José Saramago

O Gabriel García Márquez dizia que escrevia para que gostassem dele. É possível. É mais exacto dizer que a gente escreve porque não quer morrer. Ser amado pelo outro não está na nossa mão; podemos escrever para que isso aconteça, e depois acontecerá ou não. Já que temos que morrer, que alguma coisa fique. Não é imortalidade… isso seria um disparate. Trata-se de um reconhecimento por algum tempo mais. In José Saramago nas Suas Palavras

Agostinho da Silva

BREVES NOTAS

Ontem queimei um lençol, com o ferro, fiz isso sozinha, gravei-lhe um colorido triângulo torrado graças à televisão. Tenho sempre a televisão pequena na cozinha enquanto passo a ferro: uma criança negra numa guerra mamava ao peito de sua mãe morta. Senti que tinha engolido uma bola de pêlo. Não irei esquecer isso: o leite gotejou para dentro do meu peito. Miren AGgur Meabe in http://poesiailimitada.blogspot.com/2011/02/miren-agur-meabe.html

O sétimo selo - diálogo de Antonius Block com a Morte

Ernesto de Melo e Castro

Por Favor, me Chame pelos Meus Verdadeiros Nomes

Não diga que partirei amanhã pois eu chego todos os dias. Olhe profundamente; eu chego em cada segundo para ser um botão num galho da primavera, para ser um pequeno passarinho, com asas ainda frágeis aprendendo a cantar em meu novo ninho, para ser uma lagarta no coração da flor, para ser uma jóia escondendo-se numa pedra. Eu ainda chego, para rir e para chorar, para ter medo e ter esperança, o ritmo do meu coração é o nascimento e a morte de tudo o que está vivo. Eu sou a efemérida metamorfoseando na superfície do rio, eu sou o pássaro que, quando chega a primavera, aparece a tempo de comer a efeméride. Eu sou o sapo nadando feliz da vida na água clara do lago, e sou a cobra, que, aproximando-se em silêncio, alimenta-se do sapo. Eu sou a criança em Uganda, de pele e osso, de pernas finas como bambu, eu sou o mercador de armas, vendendo armas mortíferas para Uganda. Eu sou a garota de doze anos de idade, refugiada dentro de um pequeno bote, que atira-

Terra de névoa

No Inverno a minha amada está com os bichos na mata. Que eu tenho de voltar antes do dia, a raposa sabe-o e ri. Tremem tanto estas nuvens! E na minha gola de neve cai uma cama de gelo quebrado. No Inverno a minha amada é uma árvore entre as árvores e convida aos belos ramos os corvos abandonados da sorte. Sabe que o vento, ao anoitecer, lhe levanta o vestido hirto de noite e geada, e me leva para casa. No Inverno a minha amada Vai silenciosa com os peixes. Servindo as águas, movidas adentro pelo o fio das barbatanas, eu fico na margem e vejo-a mergulhar e revirar, enquanto os gelos não me expulsam. E de novo, ao embate do grito da ave que me ampara com a asa, desabo num campo aberto: a amada depena as galinhas e atira-me uma clavícula branca. Ponho-a ao pescoço e afasto-me por entre a penugem amarga. Infiel é a minha amada, eu sei que às vezes flutua de saltos altos até à cidade, beija nos bares com a palhinha os copos profundamente na boca e

pastelaria

Marco D'Almeida no programa Voz Pastelaria Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura Afinal o que importa não é bem o negócio nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio Afinal o que importa não é ser novo e galante - ele há tanta maneira de compor uma estante Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício Não é verdade rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola Que afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim ainda há muita gente que come Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo! Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.  António Cícero

Poesia budista

Prefiero poemas que son pequeñas visiones budistas momentos de conciencia textos, que suben rápido a la mente saco la puntuación y llego al Nirvana in " El cuarto oscuro y otros poemas" Robert Gurney