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A mostrar mensagens de maio, 2011

Poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém o veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no teto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos ótimos empregos poemas originais e poemas como este projetos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários (assim assim) escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a deles Vai ter capitais países suspeitas como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados Ah o medo vai ter tudo tudo (Penso

Poeta

Está a trabalhar agora, numa sala que não é diferente desta, onde escrevo, ou aquela em que lês. A mesa está coberta com papéis. A luz do candeeiro seria suavizada por um abajur, onde a sua crueza única se pudesse diluir, mas não é; ela tirou-o. Os seus poemas? Nunca os perceberei bem, embora sejam aqueles de que mais preciso. Nem o próprio alfabeto que ela usa eu consigo decifrar. A sua cadeira - imaginemos se é de pele ou lona, de vinil ou verga. Deixemos que fique com uma cadeira, o candeeiro sem abajur, a mesa. Que um ou dois daqueles que ama estejam no quarto ao lado. Porta fechada e de boa saúde os que dormem. Dêmos-lhe tempo, e silêncio, papel que chegue para cometer erros e continuar. Jane Hirshfield tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho  http://www.triplov.org/novaserie.revista/numero_15/jane_hirshfield/index.html

poesia dita por António Cardoso Pinto

Fernando Pinto do Amaral - Limiar - poema dito por António Cardoso Pinto by manuscritosdigitais em manuscritos digitais

apocalipse

virei reiteradamente como as estações das flores virei como o animal ou o corsário semear o vento que vos lembre a morte (e vós que vos fechais em vossa vã imagem e vossos trapos, vós que adorais Deus olhando-vos ao espelho, tremei de vosso assento de carne fustigada há muito que Ele deixou às vossas portas as sandálias) virei na eclosão das vagas envolto em tudo quanto a vida trabalha virei no desregramento do vento e em vosso pasmo assim eu cante o vinho que sobe o rio às costas dos vindimadores virei no circuito da palavra que se quebra como um ramo de água e deixareis as armas para falar sem ritos morre-se quando de nós ficam ficaram restos que ninguém recolhe virei no som de Stockhausen e quantos desconstruíram a harmonia e o mundo antigo para que habiteis o tempo como quem habita as fontes cheios de barulhos por dentro como o vinho à cabeça das vindimadeiras in: http://triplov.com/semas/2010/Nome/index.htm

Meninas

 (a Paula Rego)  Saem da treva  as amas  sentam-se em bancos pequenos  bem juntinhos  à lareira  abrem os cestos  de fruta que são caixas  de costura  linhas de côr  e agulhas  vão bordar um pano  branco  saltam faúlhas  vermelhas ouve-se o grito  rasgado  foge o gato  da tesoura  lá no fundo uma menina  com o seu avental de pranto  Outonais (poemas 2005-2010), Yvette K. Centeno in http://www.poemsfromtheportuguese.org/121Yvette_KCen.asp