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A mostrar mensagens de dezembro, 2008

ano novo

Virás de manto realmente novo Entre searas ardentes e mãos puras? Poderemos enfim chamar-te novo, Ano novo entre as tuas criaturas? Deceparás enfim as mãos tiranas? Será feita, enfim, nossa vontade? Eu queria acreditar, vozes humanas, Acreditar em ti, deus da verdade! Como eu queria trazer-te a este mundo (Mas onde te escondeste? Desde quando?) Ó deus livre, sem espinhos, ó fecundo Senhor do fogo alegre e não do pranto! Ó ano novo, a minha esperança é cega. Transforma em luz a nossa própria treva. Alberto de Lacerda (1928-2007)

dá-me o puro cansaço

Dá-me o puro cansaço após o amor à fresca sombra da tarde. Agora que é ido o desejo, concede-te este breve instante de paz e repousa. Toda a minha vida possui isto: uma boca a brilhar sozinha em meu peito. Mas a carne é sonho ao tocar-se nela, ao senti-la fremente em nossos lábios indefesos; a carne é já cinza, esquecimento, frio desolador que se anuncia. Porém, vê como arde a tua boca negando o vazio que sempre perto nos aguarda; vê como arde o meu peito com um resplendor que por ti jamais se apaga. "Porquê beijar teus lábios se se sabe que a morte está próxima, se se sabe que amar é esquecer a vida apenas, fechar os olhos ao sombrio presente para os abrir aos radiosos limites de um corpo?" Porquê respirar esta luz carnal frente ao curso de um poderoso rio que cruelmente nos ignora mas onde de súbito uma gota de orvalho esplende como uma lágrima nossa? Não, também eu não quero acreditar numa verdade que nos livros se lê como uma água, também eu não posso aceitar essa futura

Naufragio de la niña de tu ojo derecho

La niña de tu ojo derecho ha perdido la infancia, y todas las imágenes que ha visto se sumergen en llanuras abisales, el océano reclama a la niña de tu ojo derecho, y la hunde en su seno, diligente le quita las sandalias, quiere el agua que las huellas dejadas en la arena sean leves, que se borre de la tierra cualquier reflejo que hable de su paso. Por eso la marea arrebata a la costa los restos de su sombra, y entrega al horizonte los colores. Mezcla el océano olvido con arena, y escupe en la niña de tu ojo derecho con la saliva sagrada de los náufragos. Un blanco duelo de espuma la llama por su nombre de sombra, por un instante le hierve la memoria, tu niña se pierde entre jirones, el abismo le arrebata la infancia y las sandalias. Elena Soto de Métricas del alma Elena Soto

GRATIDÃO QUE NEM SABE A QUEM DEVE SER GRATA

Gratidão de ser por estes anos e partículas restantes. Pela amizade, que chega a confundir o amor. Pela bondade, que torna a solidão desvalida. Pela hombridade, à altura do céu. Pela beleza, que só à santidade sobrepassa. E é flagrante, perdulária, noutros renascente. Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata. Pelas aves nutrindo os filhos de penugem e voo. Pela lentidão escrupulosa da tartaruga, igual à de Plutão. Pela leveza materna do vento transportando pólen. Pelo calor humílimo da joaninha sobre a nossa mão. E por estar na terra uma só vez, ao sol, nada pedindo, nenhum segredo, como um velho lobo-do-mar. * António Osório (n. 1933) Poeta e ensaísta, António Osório de Castro nasceu em Setúbal, a 1 de Agosto de 1933. Concluído o curso de Direito, fixou-se em Lisboa, onde se dedicou ao exercício da advocacia. Foi bastonário da Ordem dos Advogados entre 1984 e 1986, administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura e presidente da Associação Portuguesa para o

Oración para un extranjero

VI Lluvia, somos dos extranjeros, mi nombre como el tuyo es una travesía, un deambular por puertas cerradas para siempre. La gente entra en mi sueño como por otra casa y tus breves colores se deshacen contra el olvido, pero ya lo sabemos, no hay nada que tratar con su navaja, nada que preguntar en sus regiones. Lluvia, somos dos extranjeros, nos separa una herida. © Jorge Boccanera

Monumento al mar

Monumento al mar Paz sobre la constelación cantante de las aguas Entrechocadas como los hombros de la multitud Paz en el mar a las olas de buena voluntad Paz sobre la lápida de los naufragios Paz sobre los tambores del orgullo y las pupilas tenebrosas Y si yo soy el traductor de las olas Paz también sobre mí. He aquí el molde lleno de trizaduras del destino El molde de la venganza Con sus frases iracundas despegándose de los labios He aquí el molde lleno de gracia Cuando eres dulce y estás allí hipnotizado por las estrellas He aquí la muerte inagotable desde el principio del mundo Porque un día nadie se paseará por el tiempo Nadie a lo largo del tiempo empedrado de planetas difuntos Este es el mar El mar con sus olas propias Con sus propios sentidos El mar tratando de romper sus cadenas Queriendo imitar la eternidad Queriendo ser pulmón o neblina de pájaros en pena O el jardín de los astros que pesan en el cielo Sobre las tinieblas que arrastramos O que acaso nos arrastran Cuando vuela

Infância

Sempre o mesmo desejo de voltar às praias da infância: argúcia dos dedos na areia alegria dos olhos na espuma… mas como voltar aos trilhos apagados? e como voltar às fontes incendiadas? ( ao invés deste desejo eis-me espiando o futuro que nunca vivo!) ( à memória de Anabela Mafalda, com muita dor) Em todos os ramos por onde pousaste reclinei-me de frio. Armando Artur 1962 Armando Artur João nasceu em 1962, em Alto-Molocué. Pertence à Direcção de Associação dos Escritores, de que é actualmente secretário- geral. É um dos poetas revelados como o Movimento Charrua. Livros de poesia: Espelhos dos dias (1986) o Hábito das manhãs ( 1990), Estrangeiros de nós próprios ( 1996) e os Dias em riste ( 2002) ________________________________________

Hoje não escrevo

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos. Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário. O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para

A NOITE DO DIA DE FESTA

A NOITE DO DIA DE FESTA – Leopardi Noite sem vento, doce, clara. A lua Flutua sobre tetos e pomares, Serena, revelando ao longe, os montes. As ruas e caminhos silenciam, Minha amada. Pelos balcões, são raros Os lampiões, um sono suave invade Os aposentos, você dorme, nada Perturba o seu repouso, muito menos A chaga que me abriu dentro do peito! Mas você dorme, e ao céu de aspecto ameno - E à antiga natureza onipotente Que me volta à aflição – dirijo os olhos. “Para você, nem mesmo uma esperança; Para os seus olhos, só um brilho: lágrimas”, Ela me disse. Mas que dia magnífico! Dormem danças e jogos, mas, em sonho, Talvez para você desfilem todos De quem gostou ou aos quais agradou ( Menos eu, que nesse rol não compareço ). Mas se calculo os dias que me restam, Vejo-me aos gritos, a rolar na terra: Que vida horrível numa vida jovem! Vai pela rua o canto solitário De quem já trabalhou, passou na tasca, E volta tarde para a casa pobre. Vai-me apertando, amargo, o coração, Se penso em como