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A mostrar mensagens de outubro, 2008

Canção de Amor da Jovem Louca

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama, Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno: Retiram-se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) Syvia Plath translated by Maria Luíza Nogueira (in A REDOMA DE CRISTAL, Ed. Artenova, Brazil, 1971, p. 255)

poema de gonçalo de sousa

a mágoa atravessa os dias como a chuva miúda. por ela me construo um labirinto invisível. prova-se que não é a realidade que nos atormenta. gonçalo de sousa 2003-04-28

poema XXIX

antes do tempo da pergunta voltada para trás antes das estrelas iminentes antes das vozes caladas na chuva antes da rosa dias há para perceber as alturas antiquíssimas que viajam em vertigem maria costa in " ao fundo do jardim"

nocturno e elegia

Se perguntar por mim, traça no solo uma cruz de silêncio e fria cinza sobre o poluto nome que eu padeço. Se perguntar por mim, diz que sou morto e apodrecendo estou sob as formigas. Que sou o ramo de uma laranjeira, o simples cata-vento de uma torre. Não lhe digas jamais que choro ainda afagando o vazio de sua ausência, onde ficou a sua cega estátua impressa, sempre aguardando que regresse o corpo. Um loureiro que canta e sofre – é a carne, e eu em vão esperei à sua sombra. Já é tarde. Sou um mudo peixezinho. Se perguntar por mim, dá-lhe estes olhos, estas grises palavras, estes dedos; dá-lhe no lenço a gota do meu sangue. Diz-lhe que me perdi, que estou mudado em obscura perdiz, em falsa jóia a uma orilha de juncos olvidados: diz-lhe que eu ando do açafrão ao lírio. Diz-lhe que eu quis eternizar seus lábios, habitar o palácio de sua fronte. Navegar uma noite em seus cabelos. Que aprender quis a cor de suas pupilas e apagar-me em seu peito, suavemente, nocturnamente imerso, aletargado

o presente

El present I No hi ha veritat. Sols present. Pols feta aire. Muntanyes immòbils. Però la realitat no és visible amb els ulls de la mare. El present com a crestall cúbic lluu sols per una de les seves escates. La realitat és sols un concepte. Una ficció. Figuració de la sang. Cal•ligrama de l'ànima. Àngel Terrón(De Ternari, 1986)

dez mandamentos para escrever com estilo

Diez mandamientos para escribir con estilo .Lo que importa más es la vida: el estilo debe vivir. .El estilo debe ser apropiado a tu persona, en función de una persona determinada a la que quieres comunicar tu pensamiento. .Antes de tomar la pluma, hay que saber exactamente cómo se expresaría de viva voz lo que se tiene que decir. Escribir debe ser sólo una imitación. .El escritor está lejos de poseer todos los medios del orador. Debe, pues, inspirarse en una forma de discurso muy expresiva. Su reflejo escrito parecerá de todos modos mucho más apagado que su modelo. .La riqueza de la vida se traduce por la riqueza de los gestos. Hay que aprender a considerar todo como un gesto: la longitud y la cesura de las frases, la puntuación, las respiraciones; También la elección de las palabras, y la sucesión de los argumentos. .Cuidado con el período. Sólo tienen derecho a él aquellos que tienen la respiración muy larga hablando. Para la mayor parte, el período es tan sólo una afectación. .El es

a ovelha negra

La Oveja negra En un lejano país existió hace muchos años una Oveja negra. Fue fusilada. Un siglo después, el rebaño arrepentido le levantó una estatua ecuestre que quedó muy bien en el parque. Así, en los sucesivo, cada vez que aparecían ovejas negras eran rápidamente pasadas por las armas para que las futuras generaciones de ovejas comunes y corrientes pudieran ejercitarse también en la escultura. Augusto Monterroso. La oveja negra y demás fábulas

o mar chama...

Tacteio o insondável abismo da ternura no glacial cume dos ombros A sua sinuosa orografia lembra a textura das algas flutuando à deriva num mar em chamas in " A arquitectura das palavras" de Vítor Solteiro

Calabouço

Quem dera pudesse dissipar a sombra. A chave, não a tenho mais. Todos esses monstros, com seus corpos flamejantes, presos em jaulas de cobre, rogando às forças do abismo que os libertem. Quem dera pudesse dissipar a sombra. A chave, a perdi naquela tarde. Um dia, as luzes da fonte eram negras. Com uma rocha, vedaram a entrada da caverna. As cabeças em estacas marcavam o caminho. Quem dera pudesse dissipar a sombra. A chave esqueceu-se na fenda da cratera. Ontem não há mais e o que resta é essa noite interminável e a faca do vento gelado nas costas e os açoites dos gritos de dor Quem dera pudesse dissipar a sombra A chave, a levou o príncipe das trevas. Hoje os astros sem céu possível, nada que emane das paredes que se fecham sobre os corpos onde as almas se escondem. Adriana Versiani Ouro Preto – MG, Brasil- 1963

existe uma escritura poética?

O GRAU ZERO DA ESCRITURA* Seguido de Novos ensaios críticos Por Roland Barthes / Tradução: João Batista do Lago. EXISTE UMA ESCRITURA POÉTICA? Na época clássica, a prosa e a poesia são magnitudes, sua diferença é mensurável; não se encontram nem mais nem menos distantes que dois signos distintos, são contíguos, ou seja, encontram-se ao longo do tempo ocupando lugar de proximidade, de vizinhança de adjacência. Contudo, apesar dessa contigüidade, a prosa e a poesia apresentam diferenças de quantidade. Infere-se que a Prosa é um discurso mínimo, veículo mais econômico do pensamento, e se, ao mesmo tempo infiro que a, b, c são atributos particulares da linguagem, inúteis, porém decorativos como o metro, a rima, assim como o ritual das imagens, toda a superfície das palavras concretizará numa dupla equação de Monsieur Jourdain: Poesia = prosa + a + b + c Prosa = poesia – a – b – c Conclui-se, a partir de então, que a Poesia é [e será] sempre diferente da Prosa. Entretanto, é preciso notar q

poema

deve ter sido o amor mais puro, numa outra primavera. - assim pensei, a ouvir as ondas no seu ritmo terrestre. em tudo houve uma forma evidente, um verde, uma paisagem esdrúxula onde se ajusta o silêncio, em filigrana, ao despojado luar libidinal. mariagomes out.2008

XXVIII- maria costa

caminho para todos os lugares lágrima para todas as saudades lâmpada para toda a claridade e a isto eu chamo ' coração sem muros ' Maria Costa

soubesse eu que eras ténue!- vicente ferreira da silva

soubesse eu que eras ténue! brisa dos cinco elementos. formada no rompimento dos tecidos humanos ou em desejos momentâneos. já idos! em Março. vislumbrei-te sem halo. intacta! como a lua despida ao Outono. e aceitaste-me com um sorriso de estrelas. foi no hausto do instante, inebriado pela miríade dos sentires, que me deixei, despercebidamente, sucumbir. o tempo foi-se, exausto. e nem sequer, os teus lábios provei. Soubesse eu que eras ténue! mas não soube. e despojando-me das vestes artificiais, fui pregar às areias do vento. o voo das aves corria no fluir das lágrimas ou na força vital que pulsa nas artérias, e foi nas águas do deserto que reencontrei a dupla hélice da vida. a lembrança? deixou de estar corrompida. falhei o teu breve partir. mas sei-te ténue, sei-te minha. no profundo das sequóias vermelhas. in Comentários na face da Noite do Inatingível

levaram da casa um cofre- walter cabral de moura

levaram da casa um cofre. cofres-fortes... rio-me deles servem só para guardar valores de segunda: ouro, jóias, papéis... pois carrego comigo cá dentro e bem seguro um cofre de verdade onde guardo sentimentos. Walter Cabral de Moura

Agostinho da Silva - Europa, Japão, o Futuro e o Universo

Poesia e a dimensão erótica da vida

Platão, o filósofo grego, explica que o nome anthropos (homem) significa “aquele que contempla o que vê”. Contemplar é extrair daquilo que é visto algo que está além do objeto: encontrar um sentido. O fascínio do poema, sua sedução, reside, justamente, na possibilidade de criar e/ou encontrar esse sentido. Se, de um lado, temos o homem faminto por sentido e, do outro, há o poema que se abre ao desejo desse homem, fica patente o poder erótico da poesia. E, aqui, não cabe falar em poemas eróticos, pois não há poesia que não seja erótica. O ritual erótico que resulta no poema começa com a paixão do poeta pela palavra, pelo desejo que permeia sua relação com a linguagem. Só o poema pode revelar toda a sensualidade de um idioma. Só a Poesia possui as palavras com tamanha ânsia, a ponto de arrancá-las ao controle da sintaxe, desnudá-las da roupagem da gramática e conduzi-las, num crescendo, ao gozo inevitável: o poema. Toda poesia que mereça esta designação é erótica, no sentido de que nasce

havia na minha rua- saul dias

Havia na minha rua uma árvore triste. Quebrou-a o vento. Ficou tombada, dias e dias sem um lamento. (Assim fiquei quando partiste) Saúl Dias (1902-1983) sobre este poeta

a Palavra

... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porq

sonhos sem ilusões

Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentimentos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde. Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

sonetos

Seja falar, escrever, olhar sequer Sempre inaparentes somos. Nosso ente Não pode, verbo ou livro, em si conter. A alma nos fica longe infindamente. Pensamentos que dermos ou quisermos Ser alma nossa em gestos revelada Coração cerrado fica o que tivermos, De nós mesmos é sempre ignorada. Abismos de alma intransponíveis Por pensar ou manha de o parecer. Ao mais fundo de nós irredutíveis Quando ao pensar o ser queremos dizer. Sonhos de nós, as almas lucilantes, E duns pra outros sonhos doutros antes. Fernando Pessoa in poemas ingleses Trad. de José Blanc de Portugal

Sóis Interiores

árvores de luz do futuro iluminaram a via do grande plantador. o Palácio das Águas leves ainda é o enigma do vento. almas brancas, nuvens soltas. in In-finito Azul