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A mostrar mensagens de março, 2010

Tentativa de Solidão

Por meus lados adormecidos, sempre atrás de uma claridade desci até olhar-me frente a frente. Escrevo as tristezas com minha velha flauta de sombras enquanto nos copos de vinho bebo meus diversos rostos. Sem chorar despojando-me de tantos estigmas mortais aguardo a alma que fugitiva vem do seu passado em busca de uma fonte adormecida para descer para a noite. Quero estar sozinho em meu grande espectro, meus olhares desertos, meus cantos doem-me porque não findam em seu próprio delírio, mal reluzo neles, mal vou escorrendo como o orvalho desce dos olhos das sombras. Quero ser meu próprio testemunho, a realidade de meu signo, mas, - que povoado imenso galopa, respira, sofre? O peito de raiz perturbado está com substâncias alheias. Vacila esta veia que entra à minha frente vinda do crepúsculo, tão vasta como o passado de fogo de uma estrela, deixa-me seus sinais de luz mas seu esconjuro não consegue que esta fronte asile também nós malignos. Ah, a alma volte a fugir com os pés gelados do

vozes de crianças

O amanhã nos meus olhos é de um cinzento triste, é uma teia de luz cansada onde recordo quando iam dormir. Ainda lhes leio naquele quarto, debaixo da lâmpada ao lado da cama, os contos com capas duras de cores brilhantes. De súbito, em alguma madrugada, ouço uma criança que me chama e incorporo-me, mas não há ninguém, só um velho que ouviu o rumor da memória, um leve fragor de ar na escuridão como se uma bala atravessasse a casa. Ao apagar a luz guardava um tesouro. Joan Margarit, Casa de Misericórdia, ed. ovni, Lisboa,2009

Empilhando Lenha

O homem costuma recolher do bosque os troncos caídos com a tempestade. Empilha-os nas traseiras da casa. De cada um recorda o que o fez cair e onde o recolheu. Nas noites frias, a contemplar as chamas, vai queimando o que resta do que ama. Joan Margarit