a mulher do fazendeiro
O guisado misturado,
a lascívia de seu campo,
sua vida local em Illinois,
onde todos os acres parecem
fábricas de vassouras florescentes:
já faz agora dez anos
que ela é seu hábito;
e novamente hoje de noite
ele dirá vamos, doçura
e ela não lhe dirá o quanto além disso é preciso
para viver, quanto mais que esta
breve ponte luminosa
da cama estridente ou ainda
mais do que seus lentos toques em Braille,
como os de um pesado deus tornado leve,
esta velha pantomima do amor
que ela deseja, embora
isso continue a deixá-la sozinha,
mais uma vez de volta a si,
a mente separada da dele, vivendo
a si mesma com suas próprias palavras
e detestando a humidade da casa
que neles permanece quando finalmente jazem
em sonhos separados
e a maneira como ela olha para ele
que está ainda forte no envoltório rubicundo
do seu sono habitual, enquanto dela
os anos jovens se estiolaram na mesma
cama de casal
e ela o deseja aleijado ou poeta,
ou ainda mais solitário, ou, às vezes,
melhor, meu amado: morto
Anne Sexton (1928-1974)
Antologia da Nova Poesia Norte-Americana", uma selecção, tradução e notas de Jorge Wanderley
Anne Sexton (Anne Gray Harvey) nasceu em Newton, Massachusetts, em 1928. Talvez devido aos problemas de alcoolismo do pai, Anne procurou cedo libertar-se da família. Fala-se em abusos sexuais na infância e de muita hostilidade por parte da mãe. Com graves problemas de concentração e uma atitude desobediente, nunca foi boa aluna. Começou a escrever poesia numa escola em Lowell, para onde foi enviada em 1945. Em 1953 foi mãe pela primeira vez. Em 1955, depois de dar à luz pela segunda vez, Anne iniciou um programa terapêutico devido a depressões que se vinham agravando nos últimos anos. Tentou suicidar-se algumas vezes, na sequência das depressões provocadas por uma vida familiar bastante conturbada. Em 1967 recebeu o prémio Pulitzer pelo livro Live or Die (1966). A sua popularidade e reconhecimento foram crescendo ao longo dos anos, quer como poeta quer enquanto dramaturga. Em 1973, depois do divórcio, agravaram-se os problemas de solidão, alcoolismo e depressão. Suicidou-se em Outubro de 1974, asfixiando-se com monóxido de carbono na sua garagem.
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