rente ao chão


O pátio é agora um quadrado
de luz. Sem gatos nem sombras;
apenas o silêncio das paredes, intacto.
Rente ao chão, um exercício de entropia:
tabuletas gastas, loiça em cacos, o balde
cheio de pregos tortos, aguarelas refeitas
pela chuva, baús que guardam segredos,
estantes rendidas à poeira, um par de asas
falsas, a túnica com rasgões e duas malas
de couro manchadas pelo tempo, vazias.
Ao canto, o relógio partido e os
ponteiros soltos. Um deles
aponta para as nuvens, lá
muito ao alto. O outro aponta para
nós, para aqui, para estes inumeráveis labirintos.



José Mário Silva, in Nuvens & Labirintos, 2001


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Grandes são os desertos

visitações , ou o poema que se diz manso

A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012